Anticoncepção em tempos de COVID-19
- IntroduçãoEm 30 de janeiro de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) qualificou o novo coronavírus como "uma emergência de saúde pública internacional" e, em 11 de março de 2020, declarou o surto de doença do coronavírus (COVID-19) uma pandemia. Desde essa data, o número de casos confirmados da doença e o número de mortes aumentaram exponencialmente.
Até a data de encerramento da redação deste capítulo para inclusão no website (14 de setembro de 2020), em todo o mundo, foram registrados 28.871.176 casos e 921.801 mortes por COVID-19 em mais de 214 países e territórios (Dados da OMS).
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No Brasil, o Ministério da Saúde confirmou em 26 de fevereiro o primeiro caso de coronavírus no país. Em 17 de março de 2020 foi registrada a primeira morte pela COVID-19 no país e, desde essa data, o número de casos e de mortes pela doença tem aumentado exponencialmente em quase todas as regiões. Na data em que se encerrou a redação do capítulo, (14 de setembro de 2020), tem-se confirmado 4.330.219 casos de COVID-19 e 131.663 óbitos. A média diária de mortes no país ainda é alta (mais de 700 mortes por dia) e a média diária de novos casos é de 27.512.
As consequências sem precedentes desta pandemia, e as medidas restritivas impostas pela maioria dos países, tiveram um impacto negativo no acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva que salvam vidas e na resposta à violência baseada no gênero, em um momento que as mulheres, adultas e adolescentes, têm a maior necessidade destes serviços. As agências internacionais, especialmente a OMS, têm trabalhado para apoiar os governos e os seus parceiros a dar prioridade às necessidades das populações mais vulneráveis, especialmente mulheres, adultas e adolescentes, em idade reprodutiva, para acabar com a necessidade não satisfeita de planejamento familiar, com as mortes maternas evitáveis, e com a violência baseada no gênero.
Em resposta à pandemia do COVID-19, quase todos os países da região da América Latina e Caribe decretaram a implementação de medidas de confinamento, distanciamento social, prevenção de infecções e higiene respiratória destinadas à população, a fim de retardar a expansão da epidemia e evitar o colapso do sistema de saúde devido a um aumento excessivo do número de casos graves da doença.
Esta situação pode ter consequências bastante graves para a saúde da população a curto, médio e longo prazo, tais como gravidezes indesejadas, infeções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV, abortos inseguros, mortes maternas e gravidezes de alto risco não atendidas oportunamente.
Devemos redobrar esforços para facilitar o acesso aos serviços e a continuidade do uso de contraceptivos pelas usuárias atuais, além de proporcionar acesso à prevenção e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e HIV. É também importante manter a prestação de serviços de contracepção de emergência e aborto legal, atenção da violência baseada em gênero e cuidados durante a gravidez, parto e puerpério. - A importância da continuidade da atenção em anticoncepção em tempos de COVID-19Em maio de 2020, um estudo publicado em Lancet mostra uma estimativa do efeito da diminuição dos serviços essenciais de saúde sexual e reprodutiva sobre a mortalidade materna em 118 países de renda média e média baixa.
Os autores analisaram o impacto sobre o excesso de mortes maternas quando se reduz a atenção nos 5 componentes essenciais da atenção em SSR, que são:
─ Cuidados durante a gravidez, parto e puerpério
─ Planejamento familiar (aconselhamento/orientação e provisão de métodos)
─ Provisão de anticoncepção de emergência
─ Atenção às consultas por ITS
─ Atenção às vítimas de violência sexual
Os resultados foram altamente significativos. Nos países em que houve uma redução de 5% no atendimento em SSR, observou-se aumento ou excesso de mortes maternas de 8,6%. Com uma redução dos serviços de 10%, o excesso de mortes maternas foi de 14,7% e com uma diminuição de acesso a serviços de 25%, o excesso de mortes maternas chega a 38,6%. O impacto é muito importante porque, na grande maioria dos países, a redução de acesso aos serviços está na faixa de 20 a 30% (Robertson et al, The Lancet Global Health, May 11, 2020. DOI 10,1016/s2214-109x(20)30229-1.
Na América Latina, em alguns países houve uma queda importante de acesso a consultas em SSR e planejamento familiar que tiveram impacto em alguns indicadores de morbimortalidad materna, especialmente nos meses de pico da pandemia.
O problema é complexo porque o objetivo é evitar a descontinuidade dos serviços, atendendo todas as consultas que não podem ser diferidas, reduzindo ao máximo as consultas presenciais, evitando a aglomeração de pessoas nos centros de saúde.
As estratégias devem estar centradas no aumento das consultas remotas ou virtuais, reservando as vagas de consultas presenciais para casos específicos em que é imprescindível a consulta em pessoa. Essas estratégias devem incluir as seguintes ações, entre outras:
─ Oferecer consulta virtual para orientação em anticoncepção (escolher um novo método, trocar de método, consulta por intercorrências.
─ Dispensação de métodos em lugares alternativos ou entrega a domicílio sem exigir receita.
─ Entrega de anticoncepção de emergência sem consulta, em locais alternativos (farmácias conveniadas, centros comunitários).
─ Controle pré-natal (3 consultas presenciais e as demais virtuais).
─ Orientação para uso de anticoncepção pós-parto iniciada durante as consultas de pré-natal.
─ Promover o uso de métodos que se podem iniciar antes da alta da maternidade. - Novas recomendações da OMSPessoas com COVID-19 podem apresentar inúmeras e complexas alterações da coagulação sanguínea, o que pode levar a um estado de alteração da coagulabilidade que, muitas vezes, exige intervenções visando a prevenção de trombose e embolia. Deste modo, uma das preocupações dos prestadores de serviços de planejamento familiar é como orientar mulheres com COVID-19 usuárias de anticoncepção hormonal combinada sobre a continuidade, ou não, do uso durante o tratamento da infecção, devido a que as pílulas combinadas aumentam o risco de tromboses e embolias.
Com base nas evidências atualmente disponíveis, a OMS recomenda:
Mulheres assintomáticas ou com sintomas leves de COVID-19, sem sintomas respiratórios: a contracepção hormonal combinada pode ser continuada e é considerada segura nesta população. Se as mulheres estiverem preocupadas, elas devem receber a orientação de que não há evidência de um aumento do risco de trombose entre as usuárias de contracepção hormonal combinada com sintomas leves de COVID-19. Entretanto, se ela desejar descontinuar este método, poderá ser-lhe oferecido um método hormonal só de progestágeno ou não-hormonal, se disponível e aceitável.
Mulheres com sintomas respiratórios moderados ou graves de COVID-19 que não estão hospitalizadas: A interrupção da anticoncepção hormonal combinada deve ser recomendada, com base nos sintomas clínicos da COVID-19 apresentados, como por exemplo, imobilização por mais de 7 dias, dificuldade ou falta de ar, pneumonia. As considerações para a interrupção da anticoncepção hormonal combinada também devem levar em conta se a mulher apresenta outras condições médicas que possam aumentar o risco de trombose durante a infecção. Se a anticoncepção hormonal combinada for descontinuada, e a mulher precisa continuar usando anticonceptivos, poderão ser oferecidos métodos somente de progestágeno ou métodos não-hormonais disponíveis no país. A COVID-19 é uma doença que aumenta o risco de micro tromboses e a pílula combinada está contraindicada em mulheres em risco elevado de tromboses, segundo os critérios médicos de elegibilidade da OMS, incluindo as pessoas que têm que ficar em repouso em cama. Os riscos de continuar usando a pílula superam os benefícios de seu uso.
Mulheres hospitalizadas com COVID-19 grave: A anticoncepção hormonal combinada deve ser descontinuada durante a hospitalização. O risco de trombose neste grupo de pacientes pode superar os benefícios da continuação do uso do método. Podem ser usados métodos anticoncepcionais somente de progestágeno e métodos não-hormonais.
Mulheres retomando a contracepção após COVID-19: É importante que todas as mulheres que interromperem um método anticoncepcional durante a infecção por COVID-19 sejam aconselhadas sobre quando devem retomar a contracepção e que lhes seja fornecido o método de sua escolha. Qualquer condição médica nova ou existente deve ser considerada ao escolher um método anticoncepcional. A anticoncepção hormonal combinada pode ser reiniciada 2 semanas após qualquer período prolongado de mobilidade limitada (imobilização). Outros métodos podem ser iniciados imediatamente.
.Fonte: Coronavirus disease (COVID-19): Contraception and family planning. https://www.who.int/news-room/q-a-detail/coronavirus-disease-covid-19-contraception-and-family-planning (Acesso dia 7 de abril de 2021). - Perguntas Frequentes